As sucessivas crises
econômicas, que desde 2008 levaram os chineses a aproveitar as liquidações de
empresas mundo afora, começam a ter reflexo mais robusto na composição
acionária das elétricas brasileiras. Os chineses hoje já são sócios indiretos
de três grandes distribuidoras de energia no Brasil (Eletropaulo, Bandeirante e
Escelsa), que juntas detém 16% do mercado brasileiro de distribuição, e das
geradoras da AES Tietê e da EDP, com capacidade de gerar, juntas, mais de
quatro mil MW de energia. Além disso, são donos da concessão de mais de seis
mil quilômetros de linhas de transmissão e dez subestações. (Valor Econômico –
05.01.2012)
Quinta, 5 de janeiro de 2012
Chineses crescem em todas as áreas do setor elétrico no Brasil
Investida dos chineses tem sido acompanhada com atenção pelo governo
A investida dos chineses no
mercado brasileiro tem sido acompanhada com atenção pelo governo brasileiro.
Fontes do alto escalão dizem que um dos mecanismos usados é tentar manter sócios
estratégicos em negócios nos quais os chineses tenham participação, usando o
BNDESPar, o fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil (Previ) ou
mesmo a Eletrobras. Mas essa é uma estratégia limitada. Em transmissão, por
exemplo, o governo chinês, por meio da State Grid, é dono de uma empresa no
Brasil e tem pretensões de disputar leilões importantes de linhas de
transmissão, como a que vai ligar a usina de Belo Monte ao Sudeste do país. O
setor de transmissão é, por enquanto, o que mais tem recebido a atenção do
governo, já que é a única área do setor elétrico em que os chineses entraram
diretamente no país. Eles desembolsaram R$ 3,5 bilhões para comprar as linhas
de transmissão que pertenciam a um grupo de empresas espanholas. O governo
chegou a acelerar o pagamento das dívidas que a Plena Transmissoras tinha com o
BNDES, elevando o custo da compra em R$ 1 bilhão, mas mesmo assim os chineses
bancaram a entrada no país. A alta capitalização dos chineses é o que mais
assusta. "Eles colocaram oito bilhões de euros no negócio da EDP",
disse importante fonte do governo. "Nós não temos esse dinheiro para
competir". "Os chineses não têm pressa", diz uma fonte ligada à
Eletrobras. "Mas daqui a pouco eles podem ser acionistas controladores de
importantes distribuidoras no Brasil".(Valor Econômico – 05.01.2012)
Investida dos chineses: blindagem no caso da AES
Em distribuição, único
negócio em que o governo brasileiro ainda se sente blindado pelo ataque chinês
no setor elétrico, é o caso da AES. Os fundos soberanos chineses são donos de
15% da companhia nos Estados Unidos, participação adquirida em 2009. Mas no
Brasil, onde a AES é dona da Eletropaulo e da Tietê, a empresa é sócia do
BNDESPar. De qualquer forma, a entrada dos chineses já atrapalhou os negócios
pretendidos pelo governo brasileiro. A ideia era o BNDES se desfazer de sua
participação na Eletropaulo em favor da CPFL Energia, que tem a Camargo Corrêa
e a Previ como sócias. Mas desde que os chineses capitalizaram a companhia
americana, o negócio travou. Além disso, a AES tem reafirmado seu interesse em
exercer o direito de preferência caso o BNDES saia da companhia. (Valor
Econômico – 05.01.2012)